Festival exibe inéditos em Sessões Especiais

Nova obra de Julio Bressane e dois longas tratando das relações de gênero na sociedade brasileira serão exibidos em sessões especiais hors concours

*Festival amplia escopo da sua programação buscando exibir maior pluralidade de tendências do cinema nacional

O 49º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO vai realizar nesse ano algumas Sessões Especiais em complemento à programação das suas mostras competitivas. Os longas serão exibidos em caráter hors concours. Assim, o público poderá conferir o novo trabalho de Julio Bressane, um dos mais importantes e ativos diretores do cinema brasileiro desde os anos 60. Além desse verdadeiro mestre, outras duas sessões serão dedicadas a um tema urgente na atual conjuntura da sociedade brasileira: as relações e conflitos entre os gêneros, numa sociedade que ainda busca uma condição mais igualitária e justa entre homens e mulheres.

“Ao eleger esses dois caminhos para as suas sessões especiais fora de competição, o Festival de Brasília reforça duas tendências que são marcantes na sua história. Por um lado, o respeito e admiração por nomes essenciais do cinema brasileiro, sempre inquietos e esteticamente relevantes. Por outro, o desejo de falar muito frontalmente dos temas que são decisivos na arena sócio-política da atualidade”, explica o curador dessa edição do Festival, Eduardo Valente.

Beduino, novo filme de Julio Bressane, fará sua estreia mundial em agosto dentro do prestigioso Festival de Locarno, e em Brasília terá sua primeira exibição no Brasil. Bressane é parte essencial do Festival de Brasília, já tendo vencido a competição em quatro ocasiões: em 1982, por Tabu; em 1997, por Miramar; em 2003, por Filme de Amor; e em 2007, por Cleópatra. Seu novo filme desafia fronteiras entre o sonho, o real e o imaginário, exibindo o desejo de mapeamento das sensações humanas através da música, da imagem, da letra e de outras manifestações artísticas. Segundo explica o próprio diretor, é um filme que se inscreve na realidade, mas de um real que se sustenta também pelo que é imaginado. Como protagonistas estão Alessandra Negrini e Fernando Eiras.

As outras duas sessões hors concours exibem dois documentários que se aproximam bastante frontalmente dos discursos e experiências em torno das relações entre homens e mulheres: são o pernambucano Câmara de Espelhos, de Dea Ferraz, e a produção paulista Precisamos falar do assédio, de Paula Sacchetta. Os filmes serão exibidos em sessões especiais no mesmo dia no Cine Brasília, e no dia seguinte haverá um seminário, “Diálogos de Cinema”, sobre questões de gênero e representação cinematográfica, partindo do diálogo e das proposições fílmicas das duas diretoras.

Câmara de Espelhos busca lançar luz sobre o chamado “male gaze” (o olhar masculino que constrói uma identidade para as mulheres), além de explicitar o papel do cinema na construção das identidades de gênero. A diretora propõe a um grupo de homens, fechados num estúdio, que discutam diferentes temas, os quais abordam, de várias maneiras, a presença e os papeis exercidos pela mulher na sociedade. Já Precisamos falar do assédio trabalha com a dinâmica de dar voz às mulheres para que estas possam falar de episódios que explicitem relacionamentos abusivos. Assim como no filme pernambucano, o dispositivo usado busca isolar as participantes, aqui individualmente, dentro de uma van estacionada em diferentes pontos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em ambos os casos, a situação de isolamento permite um clima de intimidade do qual emergem poderosas revelações, seja pelo discurso auto-expositivo de uns ou pelas duras lembranças íntimas das outras. Duas experiências sensoriais fortes que buscam revelar mais sobre a sociedade em que vivemos, e como homens e mulheres enfrentam condições distintas dentro dela.

O 49º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO tem o patrocínio do BNDES, Petrobras, Terracap e Banco de Brasília – BRB. Apoio da Lei de Incentivo à Cultura, Câmara Legislativa do Distrito Federal, Canal Brasil, Revista de Cinema, O2Pós, TV Globo. Realização: Secretaria de Cultura do DF.

SINOPSES

BEDUINO

Direção Julio Bressane
ficção, 75min, 2016, RJ
Um casal bastante curioso – dramaturgos de sua própria existência na qual a arte surge acompanhada de uma singular pretensão metafísica – procura pela coisa mais difícil, através de repetidas e variadas representações, em um cenário de luz onde se misturam esperança e desespero.
Elenco: Alessandra Negrini e Fernando Eiras

Roteiro e direção Julio Bressane
Produção Tande Bressane e Bruno Safadi
Direção de fotografia Pepe Schettino e Pablo Baião
Colaboração no roteiro e montagem Rosa Dias
Montagem Rodrigo Lima
Direção de arte Moa Batsow
Figurinista Daniela Aparecida Gavaldão
Companhia produtora TB Produções

JULIO BRESSANE – Carioca, nascido em 1946. Começou a fazer cinema profissionalmente como assistente de direção de Walter Lima Júnior, em 1965. Participou de articulações e invenções que consagraram o estilo e o modo de produção do chamado Cinema Marginal. Em 1967, apresenta no FESTIVAL DE BRASÍLIA seu primeiro longa-metragem, Cara a Cara. Em 1970, funda com Rogério Sganzerla a Belair Filmes; em três meses, realizam seis longas, num modelo de filmes de baixo custo e feitos em esquema ágil de produção. Bressane viveu alguns anos de exílio, em Londres, e quando retornou ao país, em 1972, dirigiu seus interesses para a chanchada, o deboche e o diálogo com tradições da cultura brasileira como a canção e a linguagem popular. Experimental, provocador, considerado um cinepoeta, Bressane já recebeu vários prêmios em Brasília. Sua filmografia é um atestado de que se trata do mais erudito dos cineastas brasileiros, na observação de muitos especialistas. A rapidez com que filma, a capacidade de trabalhar com orçamentos baixos e uma estrutura narrativa que dialoga com diversas linguagens são sua marca. Outros títulos de sua vasta e apaixonada filmografia: Cuidado, Madame (1970); A Família do Barulho (1970); Tabu (1982); Brás Cubas (1985); Dias de Nietzsche em Turim (2001); Filme de Amor (2003); Cleópatra (2007); A Erva do Rato (2008); Educação Sentimental (2013); Garoto (2015) e Beduino (2016).
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA 12 ANOS

CÂMARA DE ESPELHOS

Direção Dea Ferraz
documentário, 76min, 2016, PE
Construída dentro de uma caixa preta, uma sala de estar recebe homens variados e coloca-os diante do espelho social. O que nos dizem da imagem feminina que se apresenta? E nós? Onde estamos? Dentro, fora ou no limite da caixa? Câmara de Espelhos recorta a mesa de bar do cotidiano, o universo masculino, joga dentro de uma caixa e nos faz olhar para os discursos banais do dia a dia, desfilando a violência que caminha submersa. Como veem a mulher? Criamos um dispositivo específico, com regras e funcionamentos concretos, para que o “novo” pudesse existir. Uma caixa “mal acabada”, que não se pretende completa nem perfeita porque se percebe apenas como possibilidade de reflexão, imagem-símbolo do que nos ronda. O próprio cinema como instância imperfeita e em construção constante. Rodado na cidade do Recife, Brasil, o que parece local torna-se universal, porque a temática do machismo, das relações humanas, das disputas de gênero, das construções sociais, dialoga com o mundo.

Produção executiva Carol Vergolino
Roteiro Dea Ferraz e Joana Collier
Fotografia Roberto Iuri
Montagem Joana Collier
Som Rafa Travassos, Justino Passos e Gera Vieira
Direção de arte Lara Mafra, Nathália Gomes e Elizabete Ferraz
Cenografia Hemerson de Souza
Produtora Alumia Produção e Conteúdo, Ateliê Produções e Parêa Filmes

Dea Ferraz – Diretora e roteirista, estudou jornalismo e fez especialização em documentários na EICTV-Cuba. A diretora, que pesquisa a linguagem documental há mais de 15 anos, atualmente tem como foco de estudo os chamados filmes-dispositivos. É dessa pesquisa que nasce Câmara de Espelhos e é a partir dela que novas buscas se estabelecem. Tendo em seu currículo curtas, médias e um longa-metragem, recebeu prêmios em Festivais no México, Argentina, Cuba e Brasil. Alumia, seu primeiro média (2009), percorre muitos festivais da América Latina e sai vencedor, dentre outros, no Santiago Alvarez, Santiago de Cuba; no Contra el Silencio todas las Voces/México, na 5ª edição do DOCSDF/ México. Em 2013, recebe o convite para dirigir Sete Corações. Em 2015, o documentário é lançado e participa de festivais como Janela Internacional de Cinema, Recife; MIMO, Paraty (RJ) e In-Edit Brasil. Sete Corações em cartaz no Recife, onde também é exibido pela Rede Globo Nordeste, atingindo 820 mil espectadores. Agora, em 2016, Dea Ferraz lança o que considera seu primeiro longa-metragem autoral Câmara de Espelhos.
Classificação indicativa livre

PRECISAMOS FALAR DO ASSÉDIO

Direção Paula Sacchetta
documentário, 80min, 2016, SP
Na semana da mulher, uma van-estúdio parou em nove locais em São Paulo e no Rio de Janeiro. O objetivo era coletar depoimentos de mulheres vítimas de qualquer tipo de assédio. Ao todo, 140 decidiram falar. São relatos de mulheres de 15 a 84 anos, de zonas nobres ou periferias das duas cidades, com diferenças e semelhanças na violência que acontece todos os dias e pode se dar dentro de casa, em um beco escuro ou no meio da rua, à luz do dia. O documentário traz uma amostra significativa dos depoimentos, além de mostrar uma parte importante do processo de filmagens: como as mulheres se sentiam ao contar seus casos? Nos depoimentos puros, sem qualquer tipo de interlocução ou entrevista, acompanhamos um desabafo, um momento íntimo ou a oportunidade de falarem daquilo pela primeira vez. Nas trocas com as meninas da equipe antes e depois do depoimento, permitiremos que o espectador entre em contato com uma reflexão da depoente sobre sua própria história, e às vezes sobre o próprio projeto.

Produção Carmem Maia e Gustavo Rosa de Moura
Produção executiva Bia Almeida e Felipe Rosa
Direção de produção Bia Almeida
Assistência de direção André Bomfim
Direção de fotografia Francisco Orlandi Neto
Câmera Francisco Orlandi Neto e Bruno Horowicz
Som direto André Bomfim e Vitor Durante
Montagem André Bomfim e Paula Sacchetta
Assistência de montagem Bruno Horowicz, Carol Sugiyama e Pedro Vainer
Direção de arte André Bomfim
Máscaras Juliana Souza
Assistência de produção Giovana Ferrari e Eugenia Kimura
Patrocínio Fundação Gamaro e Fundação Brasil 2000
Apoio SPCine e Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de São Paulo
Produtora Mira Filmes

Paula Sacchetta – É jornalista e documentarista. Ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria reportagem. Cobriu as primeiras eleições presidenciais egípcias, no Cairo, para TV Folha. Dirigiu o documentário Verdade 12.528, sobre a Comissão Nacional da Verdade e lançou em 2014 Quanto mais presos, maior o lucro, curta documental sobre a chegada das penitenciárias privadas ao Brasil, premiado no 31º. Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Seu documentário Verdade 12.528 foi lançado na 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e participou dos festivais: 4º Festival Pachamama de Cinema de Fronteira (Rio Branco, Acre); CineMube Vitrine Independente (MIS-Mube, São Paulo), tendo ganhado melhor filme pelo júri e melhor filme pelo público; Festival Internacional de Cine Político (Buenos Aires, Argentina); Cinema Verité (Irã) e Cine Cipó (Serra do Cipó, MG), além de ter sido exibido em congressos e atividades no Haiti e em New Orleans, dentre muitos outros.

Classificação indicativa 18 anos
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