O Cinema de Othon Bastos

CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL BRASÍLIA – 1º A 13 DE FEVEREIRO DE 2011

Mostra homenageia um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos. 

13 filmes que percorrem a história do cinema nacional.

Oportunidade rara de (re)ver clássicos como São Bernardo, Capitu e Deus e o Diabo na Terra do Sol.

Impossível esquecer a imagem de Othon Bastos fazendo uma prece e empunhando a espada de Corisco nas cenas finais de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. O ator tornou-se, naquele momento, um símbolo do cinema brasileiro. Mas Othon Bastos tem emprestado seu talento a muitos outros protagonistas de títulos como “Capitu”, “São Bernardo”, “Os Sermões”. Agora, um pouco da trajetória deste que é um dos grandes nomes do cinema, do teatro e da televisão no Brasil poderá ser conhecida. O Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília realiza a mostra O CINEMA DE OTHON BASTOS, de 1º a 13 de fevereiro, exibindo 13 filmes, sob curadoria de Davi Kolb. Os títulos serão exibidos em película – com exceção de “Sol sobre a Lama”, que será projetado em DVD, devido à baixa qualidade das cópias existentes em película.

Com três sessões diárias, de terça a domingo, a mostra apresentará filmes que estão entre os mais significativos da carreira do ator ao longo de cinco décadas. Além disso, será organizado um debate, no dia 1º de fevereiro, que contará com a presença do próprio Othon Bastos. Com entrada gratuita, o debate servirá de oportunidade rara para conhecer e discutir aspectos da trajetória do artista no cinema nacional, com perguntas abertas ao público.

A realização de uma mostra em homenagem a Othon Bastos em Brasília confirma o carinho e a admiração da cidade pelo ator. Foi a capital brasileira que primeiro confirmou o talento de Othon Bastos, concedendo a ele seu primeiro prêmio de atuação no cinema: em 1970, Bastos recebeu o Candango de melhor ator pelo protagonista de “Os Deuses e os Mortos”, de Ruy Guerra.

OS PRIMEIROS ANOS

Othon José de Almeida Bastos nasceu na cidade de Tucano, Bahia, no dia 23/05/1933. Na infância pensou em ser piloto da aeronáutica e dentista, todavia, por conta de uma brincadeira de colégio, teve que substituir um colega de classe numa peça teatral. A partir daí embarcou no teatro amador, onde conheceu Paschoal Carlos Magno, responsável por levá-lo ao Rio de Janeiro e ingressar na escola e companhia de Teatro Duse. Nesta época, Othon já era órfão de pai e mãe e o teatro foi uma boa forma de entender as perdas bruscas da vida e encarar o mundo de forma mais lúdica e menos dura.

No teatro Duse começou como assistente de cenografia, iluminação, sonoplastia e contra-regragem, o que lhe garantiu uma base sólida para, em 1951, estrear profissionalmente na peça “Terra queimada”, escrita e dirigida por Aristóteles Soares. Em seguida, integra o elenco da peça, “Lampião”, de Raquel de Queiroz. Othon recebeu muitas críticas positivas por conta do desempenho na peça de Raquel. Depois seguiram-se as peças, “A noiva do véu negro” (1954) e “Phedra” (1955). Um ano depois recebeu um convite de Martin Gonçalves para trabalhar no teatro da Universidade da Bahia em Salvador. Em 1957, segue para Londres com o intuito de aprofundar seus estudos. Sua estada na Weber Douglas School dura mais ou menos um ano.

Na volta da Inglaterra participa de algumas montagens muito importantes com Martin Gonçalves como “As três irmãs”, de Anton Tchekhov, “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams, e “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna. Também é importante ressaltar sua passagem pela TV Tupi, onde começa um ciclo na TV, sempre com idas e vindas que dura até hoje. No ano de 1960, rompe com Martin Gonçalves e em parceria com João Augusto de Azevedo funda a Companhia de Teatro dos Novos. Eles se empenham na construção do Teatro Vila Velha.

O CINEMA

Em 1962 estreia nas telas de cinema participando do filme “Sol sobre a lama”, de Alex Vianny. No mesmo ano fez parte do elenco de “O pagador de promessas”, de Anselmo Duarte, filme contemplado no festival de Cannes do mesmo ano com a Palma de Ouro, até hoje a única conquistada por um filme brasileiro.

Desde então sua relação com o cinema brasileiro é de intensa contribuição e devoção. No ano de 1964, o cineasta baiano Glauber Rocha procurava por um ator com sólida formação em teatro político, especialmente alguém que fosse grande conhecedor do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Nesse momento surge o nome de Othon Bastos.

Em 1967, o diretor Paulo César Saraceni convida-o para interpretar Bentinho no filme “Capitu”, adaptação do clássico da literatura brasileira “Dom Casmurro”. Um ano depois, ele e sua esposa, Martha Overbeck, passam a integrar o Teatro Oficina. Inicia-se um período muito frutífero e de grande resistência política dentro do teatro brasileiro, visto que o Brasil passava por seus anos de repressão militar de modo mais intenso. Othon com toda sua carga política e sob a batuta do diretor teatral José Celso Martinez Corrêa participa de duas montagens de Brecht: “Galileu Galilei” e “Na selva das Cidades”, ambas muito elogiadas pelos veículos de imprensa da época que celebravam a importância das artes como modo de luta e também destacavam as interpretações perfeitas e impressionantes do ator baiano.

No ano seguinte, Othon Bastos e Glauber Rocha se reencontram em um set de filmagem, desta vez no filme “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”. Logo em seguida, ele recebe um convite de Ruy Guerra para interpretar o protagonista do longa-metragem “Os deuses e os mortos”. Por este filme, Othon ganhou seu primeiro prêmio de relevância no cenário cinematográfico, o Candango de melhor ator no festival de Brasília de 1970.

No ano de 1972, Leon Hirszman prepara a adaptação do livro “São Bernardo”, de Graciliano Ramos. O diretor oferece a Othon Bastos o papel de protagonista. Sobre o episódio Othon comenta: “Eu costumo dizer o seguinte, o Paulo Honório seria como a Capitu, todo mundo imagina a sua, cada um cria o seu Paulo Honório. E logo que eu abri o livro, o Graciliano diz que ele tem cabelos sarará, ruivos, lábios grossos, mãos enormes. Então, eu me olhei e pensei… Eu não sou absolutamente nada do que é descrito no livro. Aí eu conversei com Leon e disse que não tinha a menor condição de fazer o filme, eu não tenho nada a ver com esse personagem. Ele aí virou para mim e disse que queria que eu fizesse o personagem com o sentimento que eu tinha captado do livro. E ele queria que eu fizesse o filme com o meu lado de ator político”.

E Othon executou com maestria a sua missão, tanto é que foi agraciado com o Kikito de melhor ator no festival de Gramado de 1972. Com a consagração do festival no Sul do país a carreira nos cinemas do ator baiano ganhou enorme fôlego e os trabalhos seguiram-se um atrás do outro: “O homem do Pau Brasil”, de Joaquim Pedro de Andrade, “A próxima vítima”, de João Batista de Andrade, “Chico Rei”, de Walter Lima Jr, “Os Sermões”, de Júlio Bressane e muitos outros.

A carreira de Othon Bastos também teve e tem grande destaque na televisão. Ele já integrou o elenco de novelas como “Mulheres de areia”, “Aritana” e “Roda morto”, na extinta TV Tupi, além de “O campeão”, “Os imigrantes” e “O ninho da serpente”, na TV Bandeirantes. Sem contar os sucessos Globais: “Roque Santeiro” e “Selva de pedra” e também “Os ossos do barão”, “Éramos seis” e “Sangue do meu sangue”, no SBT. Essa pluralidade é marca registrada do ator.

                                      PROGRAMAÇÃO

Terça, 1º/02

16h – Brasília 18% – 102’

18h30 – O Engenho de Zé Lins – 80’

20h00 – DEBATE – com a presença de Othon Bastos, do cineasta Vladimir Carvalho e do curador Davi Kolb

Quarta, 02/02

16h – Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – 123’

18h30 – Capitu – 105’

20h30 – Bicho de Sete Cabeças – 74’

Quinta, 03/02

16h – Os Deuses e os Mortos – 97’

18h30 – Os Sermões – 78’

20h30 – O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro – 100’

Sexta, 04/02

16h – Mauá, o Imperador e o Rei – 135’

18h30 – São Bernardo – 113’

20h30 – Deus e o Diabo na Terra do Sol – 125’

Sábado, 05/02

16h – Sol sobre a Lama – 90’ (exibição em DVD)

18h30 – Bicho de Sete Cabeças – 74’

20h30 – Central do Brasil – 113’

Domingo, 06/02

16h – Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – 123’

18h30 – Capitu – 105’

20h30 – Os Deuses e os Mortos – 97’

Terça, 08/02

16h – Mauá, o Imperador e o Rei – 135’

18h30 – Brasília 18% – 102’

20h30 – Os Sermões – 78’

Quarta, 09/02

16h – Central do Brasil – 113’

18h30 – O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro – 100’

20h30 – Deus e o Diabo na Terra do Sol – 125’

Quinta, 10/02

16h – Capitu – 105’

18h30 – O Engenho de Zé Lins – 80’

20h30 – Sol sobre a Lama – 90’(exibição em DVD)

Sexta, 11/02

16h – Os Deuses e os Mortos – 97’

18h30 – Brasília 18% – 102’

20h30 – Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – 123’

Sábado, 12/02

16h – Bicho de Sete Cabeças – 74’

18h30 – Deus e o Diabo na Terra do Sol – 125’

20h30 – São Bernardo – 113’

Domingo, 13/02

16h – Os Sermões – 78’

18h30 – Central do Brasil – 113’

20h30 – Mauá, o Imperador e o Rei – 135’

SINOPSES

Sol Sobre a Lama (Brasil, 1962, Cor, 90’)

Direção: Alex Viany

A luta pela preservação do canal de acesso à Feira de Água de Meninos em Salvador, BA, movida por diversos personagens-tipos (prostituta, saveirista, ceramista, etc) contra os poderosos que ambicionam os terrenos sobre os quais se desenrola a feira.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 16 ANOS

Deus e o Diabo na Terra do Sol (Brasil, 1964, P&B, 125’)

Direção: Glauber Rocha

O cangaceiro Manuel e sua mulher Rosa são obrigados a viajar pelo sertão, após ele ter matado o patrão. Em sua jornada, eles acabam cruzando com um Deus negro, um diabo loiro e um temível homem.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

Capitu (Brasil, 1968, P&B, 105’)

Direção: Paulo Cesar Saraceni

No final do século 19, Bentinho e Capitu são jovens que namoram desde crianças. O seminário é uma ameaça, mas o casamento afinal se realiza. Aos poucos, porém, Bentinho começa a duvidar da fidelidade de Capitu, devido à crescente amizade entre ela e seu amigo Escobar. O ciúme corrói dia-a-dia o temperamento de Bentinho, transformando sua personalidade e o mundo a sua volta.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Brasil, 1968, Cor, 100’)

Direção: Glauber Rocha

Numa cidadezinha chamada Jardim das Piranhas aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, Laura, vivendo uma trágica solidão.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

Os Deuses e os Mortos (Brasil, 1970, Cor, 97’)

Direção: Ruy Guerra

Sul da Bahia, anos de 1930. O Homem – um aventureiro sem nome, sete vezes baleado – se intromete na luta entre dois clãs de grandes coronéis pela posse da terra do cacau. A economia cacaueira sofre uma depressão causada pelo controle que os ingleses exercem sobre os preços internacionais. O Homem vem disposto a acirrar a luta e a tomar conta de tudo. É uma luta sem vencedores, um banho de sangue que também lhe custa à vida.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

São Bernardo (Brasil, 1972, Cor, 113’)

Direção: Leon Hirszman

No interior de Alagoas, o filho de camponeses Paulo Honório é um mascate que perambula pelo sertão a negociar com redes, gado, imagens, rosários e miudezas. Tem uma obsessão: arrancar a fazenda São Bernardo das mãos de seu inepto dono, o endividado Luiz Padilha, transformando este em seu empregado.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 10 ANOS

Os Sermões – a História do Padre Antônio Vieira (Brasil, 1989, Cor, 78’)

Direção: Julio Bressane

Narrativa que mistura o figurativo e o histórico sobre a vida do padre jesuíta Antônio Vieira, que nasceu em Lisboa em 1608 e foi assassinado na Capitania Hereditária de Salvador, em 1697.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

Policarpo Quaresma (Brasil, 1998, Cor, 123’)

Direção: Paulo Thiago

O filme conta a história de Policarpo Quaresma, uma espécie de Dom Quixote verde-e-amarelo. Um sonhador inveterado, ele acredita ser um visionário que espera dias grandiosos para o nosso país. Sua primeira luta é no Congresso, onde quer que o tupi-guarani seja adotado como a língua oficial do Brasil. Sua maior aliada é sua afilhada Olga, por quem tem um afeto especial. Ele também encontra ajuda no poeta Ricardo Coração dos Outros, que é um trovador e compositor de modinhas, com as quais conta a história desse herói tupiniquim.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

Central do Brasil (Brasil, 1998, Cor, 113’)

Direção: Walter Salles

Dora escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil. Nos relatos que ela ouve e transcreve, surge um Brasil desconhecido e fascinante, um verdadeiro panorama da população migrante, que tenta manter os laços com os parentes e o passado.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 ANOS

Mauá – o Imperador e o Rei (Brasil, 1999, Cor, 135’)

Direção: Sérgio Rezende

O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o empreendedor gaúcho mais conhecido como barão de Mauá, considerado o primeiro grande empresário brasileiro, responsável por uma série de iniciativas modernizadoras para a economia nacional, ao longo do século XlX. Mauá, um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete vermelho, como chutado pela porta dos fundos por D. Pedro II.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS

Bicho de 7 Cabeças (Brasil, 2001, Cor, 74’)

Direção: Laís Bodanski

Seu Wilson e seu filho Neto possuem um relacionamento difícil, com um vazio entre eles aumentando cada vez mais. Seu Wilson despreza o mundo de Neto e este não suporta a presença do pai. A situação entre os dois atinge seu limite e Neto é enviado para um manicômio, onde terá que suportar as agruras de um sistema que lentamente devora suas presas.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 16 ANOS

O Engenho de Zé Lins (Brasil, 2006, Cor, 80’)

Direção: Vladimir Carvalho

O longa traça o perfil do escritor José Lins do Rego, a partir de sua infância, no ambiente que imortalizaria em romances como “O Menino de Engenho”, ligados ao ciclo da cana-de-açúcar, até a sua maturidade. Nesta fase, ao lado da paixão pela literatura e pelo futebol, Zé Lins sofria em segredo os reflexos de trágicos acontecimentos que o marcaram desde menino e que só agora são revelados no filme.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 10 ANOS

Brasília 18% (Brasil, 2006, Cor, 102’)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Olavo Bilac é um renomado médico legista, que trabalha em Los Angeles. Bilac é convidado pelo Instituto Médico Legal de Brasília a dar seu parecer na perícia de identificação de uma ossada, que supostamente pertence à jovem economista Eugênia Câmara, desaparecida há meses. A decisão de Bilac é cercada de expectativa, já que se for constatado que a ossada é de Eugênia isto significa que ela foi morta por seu namorado, o cineasta Augusto dos Anjos, que foi a última pessoa a vê-la antes de seu desaparecimento.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 16 ANOS