CIA DO CHAPITÔ EM ÉDIPO
Novo espetáculo da Companhia Chapitô, de Portugal, transforma a tragédia de Sófocles numa comédia arrebatadora
*Encenação é despida de qualquer objeto cenográfico e calcada no trabalho do ator
*A direção é de John Mowat, considerado um dos gênios mundiais da mímica hoje
*Três intérpretes dão vida às desventuras do herói trágico
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Seria Édipo o marido de sua própria mãe ou filho de sua mulher? E seus filhos seriam também seus irmãos, filhos de sua mulher, ou seria a sua mulher avó dos próprios filhos? E Creonte? Seria seu tio ou seu cunhado?
Estes e outros questionamentos provocaram os integrantes da Companhia Chapitô a fazer um mergulho na mitologia grega e o resultado pode ser visto no espetáculo ÉDIPO, que faz temporada na Caixa Cultural Brasília durante três semanas, de 12 a 28 de setembro, sexta a domingo, num total de nove apresentações. Quem conhece o Chapitô sabe: a companhia valoriza a comédia pelo poder que ela tem de questionar todos os aspectos da realidade física e social. E com ÉDIPO não é diferente.
Nas mãos do Chapitô, o herói trágico, emblemático, complexo, criado por Sófocles, torna-se um sujeito azarado, desajeitado, vilipendiado, enxovalhado e que, por desgraça, ainda perde a visão. A companhia vai tentar fazer o personagem trágico fugir de seu terrível destino. Sem fazer uso de qualquer objeto cenográfico, os atores Jorge Cruz, Marta Cerqueira e Tiago Viegas irão contar a história de Édipo, revezando-se no papel de todos os personagens da narrativa. Na direção, o artista que tem sido responsável pelo sucesso de mais de 20 criações do grupo, o inglês John Mowat, apontado pelo jornal The Times Educacional Supplement como “um dos líderes mundiais da mímica”.
A Cia Chapitô é conhecida do público brasiliense desde que veio, em 2004, com o espetáculo Talvez Camões, dentro da programação do festival Cena Contemporânea, transformando-se num dos destaques do evento. Depois, mais uma visita, com A Tempestade, em 2010, como parte da MIT – Mostra Internacional de Teatro. A Companhia do Chapitô de teatro foi criada em 1996. O grupo valoriza a comédia pelo seu imenso poder de questionar todos os aspectos da realidade física e social. Desde sua fundação, Chapitô tem encenado espetáculos multidisciplinares, definidos no trabalho físico do ator num processo coletivo e em constante transformação. Utilizando, essencialmente, o gesto e a imagem, os espetáculos quebram as barreiras linguísticas e afirmam sua vocação universal, o que gera uma relação muito próxima com os espectadores e resulta em itinerância nacional e internacional. Desde sua formação, a companhia produziu 31 criações originais, apresentadas em Portugal e um pouco por todo o mundo: Brasil, Cabo Verde, China, Colômbia, Eslováquia, Espanha, Finlândia, França, Irã, Itália, Noruega e Suécia.
A ENCENAÇÃO
Escrita por Sófocles por volta de 427 a.C., Édipo Rei conta a história do filho do rei de Tebas, Laio, e de sua esposa, Jocasta. Alertado pelo Oráculo de Delfos de que seria assassinado pelo próprio filho, que em seguida desposaria a mãe, Laio abandona seu filho recém-nascido no Monte Citerão, pregando os pés do bebê com pregos no chão. Mas a criança é resgatada por um pastor e batizada de Edipodos, os pés furados. Adotado pelo rei de Corinto, Édipo é alertado pelo mesmo Oráculo da terrível previsão e foge da cidade. No caminho encontra Laio e, sem saber que é seu pai, o mata numa briga. Depois, já em Tebas, desvenda o enigma da Esfinge, livrando a cidade de várias ameaças. Como prêmio, recebe o trono e a mão da rainha viúva em casamento. Casa-se com Jocasta, sem saber tratar-se de sua mãe biológica e com ela tem quatro filhos. Anos mais tarde, em meio a uma peste, os dois são avisados pelo Oráculo de que, na verdade, são mãe e filho. Jocasta se mata e Édipo fura os próprios olhos, como castigo por não ter reconhecido sua mãe.
Toda esta história é contada no palco por apenas três intérpretes que apresentam uma versão pouco ortodoxa dos fatos narrados por Sófocles. E fazem isso sem usar qualquer objeto cenográfico, como explica o ator Jorge Cruz: “No início desta criação, muitos foram os objetos a que demos vida e que por sua vez nos ofereceram possibilidade de jogo. Como sempre, nestas andanças da Companhia, é o jogo que nos diverte e apraz. Mas embora tudo seja possível, é sempre preciso fazer escolhas. Com base em improvisações, destinadas a explorar e compreender melhor o mito de Édipo, encontramos esta forma despojada para este espetáculo”.
A pesquisa e o improviso nas salas de ensaio fazem parte do trabalho em colaboração que caracteriza a linguagem da companhia. “Sem qualquer adereço ou decoração cênica, sem obedecer a todas as condições da tragédia clássica, apropriamo-nos de fatos e reinterpretamos pormenores, desmistificamos oráculos e da tragédia fizemos comédia”, conta a atriz Marta Cerqueira, ascrescentando: “Reinventamos Édipo, sem complexos”.
O CHAPITÔ
Associação cultural sem fins lucrativos fundada em 1981, ONG (Organização não Governamental) e IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) com estatuto de Superior Interesse Social e Manifesto Interesse Cultural, o Chapitô tem como objetivo a integração social através das artes do espetáculo (artes circenses, dança, teatro, música, vídeo e multimédia).
Situado junto ao Castelo de S. Jorge em Lisboa, é um espaço pluridisciplinar onde se desenvolvem atividades nas áreas social, cultural e educacional. Na área da formação das artes do espetáculo, oferece a Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espetáculo, Cursos de Fim de Tarde, Workshops. Também atua na produção audiovisual e multimídia, cooperação internacional e produção de espetáculos (Companhia do Chapitô e produções independentes).
Na área social e educacional, acolhe jovens em situação de tutela do Tribunal de Menores, com a Residência Aberta – Casa do Castelo (na qual aprendem ofícios e desenvolvem atividades artísticas) e crianças de família de baixa renda, em programas como Projecto ATL Jovem – Porta Aberta (que propõem atividades de aprendizagem informal, com práticas culturais). Na área da formação, propõe a educação através das artes circenses, dentre outras iniciativas. O local ainda acolhe Centro de Documentação e Biblioteca.
O DIRETOR
John Mowat nasceu em 1946. Aos 15 anos deixou os estudos e iniciou sua vida profissional como soldador industrial. Nos anos 70 estudou escultura na Royal Academy de Londres e trabalhou para a BBC e o museu de cera Madame Tussauds. Após assistir uma apresentação de Marcel Marceau, começou a praticar regularmente aulas de mímica e participou de alguns cursos de verão com Jacques Lecoq até que, em 1981, aos 33 anos, estreou seu primeiro espetáculo solo no “Nine Mimes” no London International Mime Festival. Mowat visitou mais de 40 países apresentando seus espetáculos.
Como diretor desenvolve projetos com diversos artistas, como a palhaça atriz Nola Rae, com a qual montou “Shakespeare the works” e a OddBodies Theatre Company da qual também é fundador. Desde 1992, é diretor artístico, ao lado de José Carlos Garcia, da Companhia do Chapitô de Lisboa, Portugal, para a qual já criou mais de 20 espetáculos, entre eles Don Quixote, O Grande Criador, A Tempestade, Cão que morre não ladra e Édipo.
No Brasil desenvolve atualmente uma relação próxima com a atriz Andréa Padilha, ex-integrante do grupo Pé de Vento, de Florianópolis e com o Teatro de Senhoritas com o qual está trabalhando neste momento, dirigindo um novo espetáculo baseado em contos do Livros dos Abraços, do autor uruguaio Eduardo Galeano. Mowat ministra aulas e cursos para atores por diversas partes do mundo e também é professor convidado e diretor em diversas faculdades de teatro, dança e música no Reino Unido e na Europa.
FICHA TÉCNICA
Uma criação coletiva da Companhia do Chapitô
Encenação: John Mowat
Direção Artística: John Mowat e José Carlos Garcia
Assistência de Direção: Andréa Padilha
Interpretação: Jorge Cruz | Marta Cerqueira | Tiago Viegas
Desenho de Luz: Samuel Rodrigues
Fotografias e Audiovisuais: Filipe Dâmaso Saraiva | Simão Anahory
Direção de Produção: Tânia Melo Rodrigues
Produção: Francisco Leone
Produção Turnê Brasil 2014
Projeto gráfico: Kleber Góes | Comunica.Ações
Assessoria de Imprensa em Brasília: Objeto Sim
Produção em Brasília: Michele Milani |Cena Promoções Culturais
Produção Executiva: Clara de Cápua
Direção de Produção: Pedro de Freitas
Realização: Périplo Produções
SERVIÇO
Data: 12, 13, 14, 19, 20, 21, 26, 27 e 28 de setembro de 2014
Local: Caixa Cultural Brasília (SBS Quadra 4 Lotes 3/4)
Horários: sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h
Ingressos: R$20,00 e R$10,00 (meia)
Classificação etária: 12 anos
Informações: 61 3206-9448 | 61 3206-9449 – caixacultural.df@caixa.gov.br
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