46º FBCB – Conjuntura da economia do audiovisual é apresentada em Seminário
O cenário econômico, as cinematografias regionais e as estratégias de desenvolvimento do mercado das pequenas empresas do audiovisual brasileiro foram o tema do primeiro seminário do 46º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO, reunindo gestores, realizadores e especialistas, nesta quarta-feira, 18, no Kubitschek Plaza Hotel.
De acordo com Renato Barbieri, mediador da mesa, noventa por cento da produção de audiovisual é assumida por pequenas empresas. “Em geral, produtoras dispersas e sobrecarregadas, desdobrando-se em mil para cumprir o que se propõem ou mesmo migrando para outros campos em decorrência das dificuldades de realização”, alerta. “São inúmeros talentos pulverizados e esse potencial fantástico merece estar encadeado de modo planejado e sistêmico”, defende. “Temos dificuldade, por exemplo, de entender questões como fluxo de caixa, prazos para assinatura de contrato e liberação de recursos”, complementando que “muitos saem da atividade por não terem fôlego”.
CENÁRIO AQUECIDO – Para Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine, o cenário é favorável. “O setor audiovisual brasileiro vive um momento extraordinário, de grande expansão”, diz, mostrando que o país, em 2003, contava com cerca de 2.050 salas de cinema e 100 milhões de ingressos vendidos por ano e a participação do cinema brasileiro nesse mercado nunca ultrapassava 10 por cento. “Fechamos o ano de 2012 com 145 milhões de ingressos vendidos, 2.550 salas e a perspectiva de abrirmos mais 250 em 2013. Em setembro deste ano os filmes nacionais ocuparam 18% das salas de cinema”. Já em relação ao mercado de TV por assinatura, em 2003, havia aproximadamente 3,5 milhões de assinantes. Em agosto de 2013, são 17 milhões de assinantes no Brasil, ou seja,mais de 25% dos domicílios no país dispõem desses serviços.
Outro dado que ilustra a expansão do mercado é o aumento do número de programadoras brasileiras com atuação ativa na produção de conteúdos nacionais e a decorrente exibição sistemática em horário nobre em mais de 80 canais, alguns destes com a obrigação de veicular tais produções ao menos uma hora e meia por dia. “Sem dúvida, tanto o mercado de TV por assinatura, que cresce anualmente 27%, quanto o de salas de cinema, cerca 9% ao ano, configuram um cenário extraordinário, muito aquecido, ultrapassando, inclusive, a performance da economia do Brasil”, diz Rangel.
“As profundas mudanças na estrutura econômica e política do país, suscitando a entrada de milhões de brasileiros no mercado de consumo, contribuíram para gerar um profundo afeto pela cultura nacional e pela TV e cinema brasileiros”, avalia. “Tudo isso é fruto de políticas públicas que criaram condições para a nova realidade, alterando os marcos regulatórios da TV por assinatura, oferecendo respostas à necessidade de modernização e a questões da convergência digital já incorporadas no cotidiano”. Rangel destacou ainda que “é a primeira vez que há a obrigação de investir em conteúdos brasileiros na TV brasileira”.
Entre as mudanças trazidas pelas políticas públicas, o diretor da Ancine mencionou a alteração do marco regulatório, o apoio à expansão do parque exibidor, além dos mecanismos do Fundo Setorial do Audiovisual que vêm fortalecendo as distribuidoras brasileiras e aumentando seus laços com os produtores independentes. “Em 2013, 90% dos ingressos de filmes nacionais vendidos foram por meio das distribuidoras independentes. O filme brasileiro como produto principal possibilita, então, a capacidade de planejar, a médio prazo, a ocupação do mercado de salas de cinema”, acrescentou.
“No território da televisão, com a Lei 12.485/2011 e a obrigação de carregamento de conteúdos brasileiros nos canais de exibição, a produção em estoque e que se encontrava nas prateleiras, conseguiu chegar à TV. Pela primeira vez, a sociedade está tendo real acesso a essas obras”, comemora. “Desse modo, as programadoras passaram a se estruturar para lidar com essa nova realidade e se relacionar com as produtoras independentes”. Segundo ele, o propósito da Ancine é fazer do Brasil um grande centro produtor e programador de audiovisual. Como metas, chegar a 2015 com 3,5 mil salas de cinema e até 2017 a 35 milhões de assinantes de TV, cobrindo mais da metade dos lares brasileiros. E como desafio, ressaltou a necessidade de aumentar a flexibilidade e a agilidade dos processos de financiamento, apontando a importância do associativismo, das parcerias e dos arranjos regionais.
APOIO AO EMPREENDEDORISMO AUDIOVISUAL – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem-se destacado como um significativo financiador e apoiador dos empreendimentos audiovisuais brasileiros e da democratização do acesso à cultura nacional, apoiando projetos voltados ao fortalecimento da cadeia produtiva. A afirmação é da chefe do Departamento de Cultura do BNDES, Luciene Gorgulho. “O setor audiovisual tem sido compreendido como âncora e motor do desenvolvimento ambiental, cultural do país. Desde 2006, nossas ações de fomento se tornaram mais sistemáticas, com a liberação de R$ 358 milhões”. Gorgulho explicou que são três os instrumentos voltados a financiamentos de projetos: Procult (linha de financiamento de longo prazo), Grants (recurso não reembolsável dos editais de cinema, associado a linhas de crédito para coprodução de séries, documentários, etc) e Investimentos (Private Equity & Venture Capital; Fundos de Investimento – Funcines).
O Programa Cinema Perto de Você, iniciativa da Ancine de ampliação do parque exibidor brasileiro, conta com o apoio do BNDES como agente financeiro via Procult. “Foram 150 salas construídas ou modernizadas somente em 2013, e a previsão é de mais 250 até dezembro deste ano. Sem dúvida, uma importante janela de distribuição do filme brasileiro”, afirma Luciene.
O FAC E O FOMENTO AO CINEMA – De modo crítico e comparativo com o cenário nacional, Leonardo Hernandes, coordenador do Fundo de Apoio à Cultura do DF, expôs o quadro da produção audiovisual no Distrito Federal. Com 0,3% da receita líquida do governo local, somente em 2013 mais de R$ 40 milhões foram disponibilizados para o fomento de atividades artísticas e culturais, a fundo perdido, por meio de editais públicos. No campo audiovisual, os investimentos em cinema foram na ordem de R$ 8 milhões em 2012 e R$ 9 milhões, em 2013. Em 2011 e 2012, ao todo foram apoiados 19 longas, 34 curtas e 88 projetos de audiovisual.
De acordo com a avaliação de Hernandes, “com o FAC, conseguimos formalizar e fortalecer as relações profissionais e formais no cinema. É possível assinar contrato com pessoa física. E sabemos que é histórico, nesse meio, não assinar contratos, dada a grande informalidade nas relações profissionais”. Para ele, o cenário positivo nacional – crescimento de 30% nos ingressos vendidos de filmes brasileiros e aumento de quase 20% do parque exibidor em relação a 2009 – não se deve somente à expansão macroeconômica do país, já que o FAC se mantém acima do PIB nacional, com aumento de mais de 10% ano a ano, com a previsão de que o financiamento chegue a R$ 52 milhões em 2014. “O momento é de consolidação e aplicação desses instrumentos legais, de darmos conta de operar tais volumes de recursos. Daí a necessidade de uma real articulação das políticas locais com as nacionais, somando esforços e recursos, padronizando procedimentos e aproximando às regras da Ancine e as plataformas do Ministério da Cultura.
Já Marcos Altberg, da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV), expôs o trabalho de apoio às empresas de audiovisual e as ações voltadas ao estímulo da produção, novos modelos e inserção no mercado. “Houve um real crescimento na base de associados. No início, há mais de dez anos, eram cem produtoras, e hoje somos 353 em todo país”. De acordo com ele, “o trabalho associativo é fundamental, pois as empresas têm de ser criativas e compartilhar os serviços, dadas as exigências cada vez maiores de especialização”.
Para o secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira, o evento, este ano, não só restitui ao Polo de Cinema e Vídeo a sua vocação de abrir espaços para locações e formar profissionais, quanto devolve o Cine Brasília à cidade, após quinze meses de reforma. De acordo com Hamilton, além das ações de fomento em curso, ao unir essas duas pontas, fortaleceu-se a cadeia produtiva de audiovisual no DF a partir da própria capacidade instalada. “A própria safra que iremos assistir oferece um conjunto de obras que busca refletir sobre os grandes desafios culturais, políticos e de valores que o Brasil enfrenta”, complementando que “não renunciar ao pensamento” é uma frase que resume o espírito do festival e da inteligência criativa do país. (Luciana Barreto)
A 46ª edição do FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO tem coordenação geral de Sérgio Fidalgo, coordenador de Audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura do GDF. O Patrocínio é da Petrobras, BNDES, Terracap e BRB. Apoio da Lei de Incentivo à Cultura, Inframérica (Aeroporto de Brasília), Câmara Legislativa do Distrito Federal, Canal Brasil, TV Brasil, Revista de Cinema. Realização: Instituto Alvorada Brasil, Secretaria de Cultura, Governo do Distrito Federal e Ministério da Cultura.